Abri meus olhos quando me dei conta de que estavamos parados.
"O que está acontecendo?" Perguntei pra senhora destino.
"Hmm, parece que alguma coisa está acontecendo." Ela respondeu preocupada.
A sensação de rasgo em meu peito foi berrante. Sem nem perceber eu estava de joelhos no chão tentando sufocar a dor que me rasgava por dentro, que cortava a minha alma em milhares de pedaços novamente.
Em minha cabeça, milhares de vozes gritavam palavras de discórdia e ódio, mágoa e dor.
A dor começava a me sufocar a ponto de eu ter que gritar.
A senhora estava encolhida no canto do banco e a dor me matava aos poucos.
Com muito esforço levantei minha cabeça e procurei ao meu redor o motivo de toda essa dor.
Ele estava parado bem na minha frente, seus olhos fundos por provavelmente pouco dormir, seus cabelos sujos e lisos, um sorriso amarelo entre os dentes, e uma cara de maldade em pessoa.
"Quem é você?" Perguntei desesperada.
"Sou a decepção." Respondeu rindo da minha dor. "Posso causar-te as piores das dores, a dor que engole o seu ser, a dor que sufoca suas palavras, a dor que aperta seu coração como se fosse uma maça velha e podre. Posso causar-te mágoa, posso causar-te ódio. Sou talvez o pior sentimento que exista."
Abaixei minha cabeça tentando repelir a voz fina que ecoava por dentro do ônibus.
"Eu consigo sentir minha alma rasgar ao meio, e depois ao meio e assim por diante. Eu consigo sentir todas as mentiras reviradas dentro de mim virarem lâminas e me cortarem. Eu consigo sentir o pior sentimento do mundo, a pior sensação... E dói." Falei com uma voz esganiçada.
"Sim, sei que se sentes assim. Eu, a decepção, posso causar tudo isso, e até pior." Disse rindo.
"Porque está fazendo isso comigo?" Perguntei chorando.
"Para que consiga chegar inteira até o seu rumo. Para que consiga absorver cada sensação, cada lágrima caida e transformar isso em ensinamentos." Respondeu sorrindo. Sua cara de mal sumiu, sendo substituida por uma mais calma e serena.
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