quarta-feira, 11 de março de 2009

Certeza

—Será que eu estou na espécie certa? — perguntei.
—Há, que pergunta! — a voz vinha de algo sem forma — É óbvio que está.
—Será mesmo? — retomei.
—Você alguma vez foi perfeito? Sem errar, sem magoar alguém, sem fazer mal a qualquer pessoa ou coisa, por mínima que seja? — ela me surpreendeu.
— É, bem... não. — abaixei minha cabeça envergonhada.
— Poís é, o ser humano foi criado pra isso, pra ser imperfeito. Pra errar, pra magoar-se, pra magoar os outros, mas o bom dos seres humanos, diferentes de mim, é que eles aprendem com seus erros. Eu sou apenas uma coisa imaterial, eu sou perfeita, mas eu não erro, eu não tenho sentimentos, eu nem sei o que amar é.
— Nossa — respondi surpresa — isso deve ser triste, digo, errar é ruim, nós magoamos os outros e quando erram conosco é ruim também, mas nós sempre levamos boas lições disso e começamos a dar valor ao que importa.
— Exatamente, ser perfeito não é bom, nós não conhecemos nenhuma sensação, nenhuma tristeza, nenhuma dor, mas também não conhecemos nenhuma felicidade, nenhuma alegria e vontade.
— Você sabe me dizer o que fazer? — assim como as perguntas sem respostas em minha mente, eu não sabia absolutamente nada sobre o que fazer.
— Siga seu coração, se eu tivesse um eu o faria. — disse sorridente, porem sem entusiasmo.
— E se meu coração me enganar? E se eu me deixar levar por sentimentos e me magoar terrivelmente? — perguntei desanimada.
— Você estaria seguindo o SEU coração, os seus sentimentos, a razão fala alto e é mais segura, mas ela é monótona demais.
— E se meu coração estiver cego?
— Ele sempre vai estar, ele não encherga. — riu alto — nem meus risos são de verdade, são apenas... perfeitos.
— E se eu perceber depois que estava errada em me entregar? — as perguntas não paravam.
— Então parabéns, você ganhou uma nova lição na sua vida, e isso te tornará mais forte e, infelizmente, mais seca.
— Eu a amo. — sussurrei.
— Eu sei, dá pra ver nos seus olhos.
— Você acha que seria bobagem deixar isso estragar esse sentimento? — perguntei novamente.
— Seria, talvez, a maior bobagem, mas você tem que ver se ela te ama também. Não adianta nada você ama-la e não ser reciproco. As pessoas mudam a partir do momento que realmente amam alguém.
— E se ela não me amar do jeito que ela fala?
— Então ela estaria sendo uma tola. Primeiramente por falar que te ama, sem te amar. E segundo, você só saberá se conversar com ela. Eu sou uma coisa imaterial. Eu sou perfeita, mas eu não sei o que os outros pensam.
— Eu a amo, e acho que não vale a pena tudo isso por pouca coisa, a não ser que essas coisas voltem à acontecer.
— Exato, se for pra voltar acontecer, acho que você deve procurar sua perfeição, ou melhor, seu amor, em outra pessoa. Mas acima de tudo, saiba o que ela sente, saiba o que ela está pensando e o que ela quer.
— Obrigada. — falei por fim
— Estou sempre aqui.
— Quem és você?
— Eu? Eu sou o que todo mundo tem dentro de si próprio. Sou a "Certeza"

E a voz calou-se e desapareceu por hora.

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