quinta-feira, 25 de março de 2010

o autor

A rotina era sempre igual: ele acordava, se virava de um lado pro outro na cama por 5 minutos, sentava na beira da cama por mais 1 minuto, limpava seus olhos ainda cansados, se espreguiçava e levantava.
Fitava a parede cor de branco encardido e lembrava da infelicidade de sua vida moribunda.
Seu grande sonho ele havia realizado, tornara-se um grande autor profissional. Vendera centenas de milhares de cópias de seus romances mundialmente conhecidos, mas tornara-se um homem vazio.
Após fitar todas as manchas amareladas — de cigarro — na parede ele caminhava para a sala gigantesca e avistava na mesa seus cinzeiros cheios de cinzas das suas emoções repreendidas — escrevia romances tão bons, mas não sabia compartilhar momentos com outra pessoa. Perdera o pai e a mãe um pouco antes de explodir na carreira e vivia caminhando com seus fantasmas atrás de seus passos. Assombrando-o pela ausência que tivera na vida familiar.
Na cozinha as pilhas de caixas de pizza pintavam sua solidão — nunca aprendera a preparar algum tipo de comida, não havia tempo nem para isso.
Lavava seu rosto no banheiro, escovava seus dentes e sentava-se na escrivaninha que era praticamente sua casa — havia uma pequena geladeira do lado e um pequeno armário onde escondia refeições rápidas.
Afundava sua depressão, sua angústia e sua solidão em páginas e páginas de romances que ele gostaria de viver. Era um gigante em conhecimento, inteligência e sabedoria, mas uma criança em emoção.
Virou um escravo do sistema social, e assim um escravo da tristeza.

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