sexta-feira, 29 de maio de 2009

A 'senhora' destino, parte doze.

Esse, meus caros leitores, seria um capítulo que se eu pudesse não escreveria, mas, como os fatos de uma longa caminhada na vida os envolve, não posso deixa-los de lado.

Eu estava radiante, viva. Meu corpo funcionando perfeitamente sem falhas, sem ansiedade alguma. Estava calma e admirava a noite por fora da janela do ônibus — que agora estava praticamente impecável.
Estava esperando pela sensação que eu sentia que estaria próxima, o orgulho, mas, em um piscar de olhos, a cena mudou novamente.
Olhei ao meu redor confusa e percebi que a traição estava lá novamente. Olhei com espanto pra senhora Destino e ela estava encolhida em seu ascento. A esperança continuava serena, mas parecia uma estátua — nenhum músculo de seu corpo se quer se movia. A coragem tremia, mas logo retomou sua postura com suas feições sérias e tensas. A inteligência só observava, e a mudança sabia — outra mudança estava por vir.
Passei meus olhos rapidamente de um rosto para o outro sem entender muito bem o que estava acontecendo. Então perguntei pra traição:
— O que você está fazendo aqui, de novo?
A pequena criança sorriu pra mim, seu riso malígno e apavorante.
— Tive que voltar — falou enquanto se balançava pra frente e pra trás, como uma criança que aprontava alguma coisa.
Olhei, então, para o começo do ônibus e ouvi passos na escada.
Foi tudo tão rápido, que se eu fosse um pouco mais fraca do que era não teria aguentado.
Na minha frente surgiu uma mulher, linda. Meus olhos se arregalaram com tamanha beleza, e eu não conseguia entender porque me sentia tão mal, tão intimada, perante a uma beleza colossal como aquela.
Ela era pequena, mais ou menos do meu tamanho. Seu rosto parecia de um anjo misturado com aquelas atrizes de cinema que a beleza era tanta que chegava até doer. Seus olhos eram tão escuros, que a púpila parecia nem existir. Seu sorriso perfeito, e o cabelo — que batia um pouco abaixo da nuca — era bagunçado, mas perfeitamente caido.
Ela andava até minha localização rapidamente — como se estivesse com uma pressa tremenda de me encontrar.
— Você é podre — ela me disse quando chegou perto o bastante para que eu pudesse ficar sem ar.
Eu até consegui ouvir o rasgo que se fez dentro de mim. Aquela palavra, vinda de uma imagem tão pura e linda — aparentemente — me rasgou.
— Não estou entendendo. Porque está me falando isso? O que eu fiz? — minha voz saia esganiçada. Eu esperava que ela pudesse entender o que falei.
Ela soltou uma gargalhada.
— Não se faça de idiota. Você é NOJENTA. As pessoas tem NOJO de você. — ela ria e soltava palavra após palavra em mim.
Eu conseguia sentir cada uma delas entrando em mim e causando um estrago tremendo.
Meus olhos se enxeram de lágrimas, meu corpo tremeu e eu não sentia mais nada de doce.
Ela falava e falava sem parar. As palavras agora eram apenas zumbidos pra mim, porque aquilo me magoou tanto, me feriu tanto que o meu torpor rapidamente apareceu para que eu não escutasse mais nada do que estava sendo dito.
Quando meus olhos, embassados pelas lágrimas, olharam para cima novamente, uma outra mulher estava do lado da pequena, mas ela não dirigia suas palavras pra mim, e sim para a mulher pequena.
Tentei retomar todos os meus sentidos para que eu pudesse escutar o que elas estavam dizendo.
— Você... Mentira... Nunca foi... Só se for você... Como ousa falar essas coisas para essa menina? — A mulher mais alta falava e eu começava a ouvir tudo perfeitamente.
As duas pararam em silêncio para me fitar, já que eu havia cambaleado pra trás como se fosse desmaiar — mas eu estava bem. Bem pelo menos pra ficar em pé.
— Q-quem são vocês? — perguntei.
A pequena gargalhou, apontou seus dedos finos para mim e falou:
— Eu sou a Mentira.
A maior lançou um olhar de repulsa para a outra e voltou-se para mim:
— Eu sou a Verdade.
Mentira, Verdade, que diabos estava acontecendo.
Todos no ônibus estavam em silêncio, com suas cabeças abaixadas, mas eu não conseguia encontrar a criança Traição.
Olhei pra frente novamente e reparei uma pequena mão segurando as bordas da calça da Mentira. A traição estava lá.
Ao ver meu olhar de incredibilidade a Verdade falou:
— Não se preocupe, todos aqui sabemos que as acusações contra você são MENTIRAS. Você foi traida novamente.
Olhei para a Mentira e a Traição e eles riam juntamente com zombaria. Senti náuseas.
— Como isso pode ter acontecido? Como? Porque? Pra que?
A esperança que estava logo alguns passos de mim pois-se a falar:
— Não se preocupe pequena, você tem sua mente limpa. Mantenha sua postura e logo a justiça será feita.

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