Nublado

Acordei repentinamente. Assustada — mas eu já estava começando a me acostumar em acordar assim, meus sonhos estranhos não me deixavam uma noite se quer.
Meu quarto estava completamente escuro ainda. Será que não havia amanhecido?
Olhei no meu relógio e já se passavam das nove horas. Em um ato de reflexo abri minha janela pra observar. Nublado. Um dia horrível.
O vazio, onde meu coração estaria se eu não o tivesse entregue, ainda se debatia contra meu peito, me mostrando que eu ainda estava assustada, nervosa.
Tentei respirar fundo e limpar o caroço que estava preso na minha garganta.
— Foi só um sonho, só um sonho — fiquei lembrando à mim mesma.
Meu corpo inteiro mostrava tensão. Minhas unhas, já não tão compridas, se cutucavam, e por mais que eu tentasse aquele caroço não descia.
"Bom dia pequena..." — começei a ler, e os temores iam embora, embora alguma coisa ainda me incomodava — e eu, sinceramente, não sabia dizer o que era.
Por ser quem sou, eu odiava coisas sem explicações. Odiava me sentir do jeito que estava, sem nem ao menos saber o motivo pra tudo aquilo.
Me arrumei em poucos minutos, na presa de sair logo de casa. Na esperança de deixar minhas tensões pra trás e encontrar a calma naquele olhar tão familiar pra mim.
Meu corpo vazio implorava por aproximação, mas isso era normal demais pra mim já.

Porque uma data tão insignificativa no calendário me importava tanto?
Como se fosse o final dos tempos, ou alguma coisa parecida. Como se eu soubesse o vazio que aquele dia estaria preparado pra me dar.
Porque o pouco, parecia ser tão imenso e desconhecido?
Se tem uma coisa nessa vida que me assusta, é o desconhecido.
Procuro sempre, tanto saber pelas coisas que quando as desconheço fico com medo.
Embora tenha tantas coisas que eu desconheça e não me importam realmente, algumas me apavoram.
Mas o que importa afinal? Afinal, do que eu estou falando?
De novo, me embaralhei em palavras, em pensamentos sem sentido e transformei esse texto em bagunça rs.