terça-feira, 5 de maio de 2009

A 'senhora' destino, parte oito.

Minha cabeça parecia que ia explodir a qualquer momento. Mais alguma informação e eu teria um surto sem fim. Até quando eu teria que aguentar isso? Todas essas coisas jorrando sem parar pra dentro de mim, como fagulhas, ou estilhaços.
A senhora se aproximou de mim e disse:
— Cada um recebe o fardo que consegue aguentar.
Olhei pra ela com meus olhos entristecidos, inxados e vermelhos de tanto chorar, de tanto gritar por socorro.
— E se eu não conseguir carregar mais nada? — perguntei.
— Então, algo de suas costas vai cair, para que outra coisa nova seja carregada. — disse a inteligência. — Sempre terá substituições, nunca ficará pesado demais.
Eu conseguia sentir aquela mesma sensação horrível dentro de mim, aquele buraco sulgando tudo que me restava. Abaixei minha cabeça e segundos depois a levantei séria.
— Olhem pra mim, olhem o estado que eu estou. É vergonhoso estar assim, me dá nojo de mim mesma. Como EU pude deixar que isso acontecesse comigo? Eu sempre uma pessoa tão sorridente, tão boa, e agora me encontro desse buraco fedorento e sujo.
Todos me encararam quietos.
De repente, um barulho no teto do ônibus. Meus olhos correram pelo teto imundo de um lado para o outro e, sem mais nem menos, algo estava rasgando o teto com as mãos fortes e pesadas.
Ele pulou bem na minha frente. Forte, bonito e com um sorriso muito branco nos lábios.
Olhei novamente para o teto e ele estava intacto. Será que eu já estava começando a criar alucinações? Olhei incrédula para a nova figura que estava parada na minha frente e, antes que eu perguntasse, ele se apresentou:
— Sou a coragem. — disse sorrindo com os dentes mais perfeitos e brancos que eu já vi na vida.
Fiquei completamente em choque, como se não pudesse acreditar naquilo. Esfreguei meus olhos para ver se a dor constante não estava me gerando alucinações. Era verdade, era a coragem.
— C-como? — perguntei.
— Simplesmente fui trazido até aqui, parece que recuperastes sua coragem de continuar. Era isso que te faltava. Coragem. — ele disse com sua cara de galã de cinema.
— Não me sinto corajosa. Continuo com as mesmas dores, com a mesma sensação horrível dentro de mim. — falei sem ânimo algum.
— Coragem não tira as dores, ela te dá impulso e força para você tira-las de você. Você pode agora provar para si mesma, e para todos que você consegue. — ele disse com orgulho.
— Não sei se eu consigo isso. Bom, na verdade eu sei. Eu consigo, mas vou precisar de você do meu lado, pode ser? — perguntei.
— Eu não vou a lugar algum, até porque não tem como, eu já estou aqui. Uma vez que eu apareci é difícil eu partir, a não ser que "ele" venha. — sua voz tremeu ao falar "ele".
— Quem é "ele"? — perguntei assustada.
— O medo. — sua voz saiu como um sussurro.
Estremeci de cima à baixo. Foi talvez o pior pavor que eu já senti.
— Não! Não sinta-o, ou ele aparecerá. — ele quase gritou pra mim.
Me concentrei em tudo que já havia acontecido até aqui e me calei, me encolhi.
Eu não poderia deixar o medo tomar conta de mim. Pelo jeito seria a pior de todas as sensações.
"Eu não vou sentir medo, eu não vou sentir medo, eu não vou sentir medo.." — continuei a repetir isso na minha cabeça, várias e várias vezes.

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