domingo, 3 de maio de 2009

A 'Senhora' destino, parte quatro.

Sem mais nem menos me senti atingida, fui impulsionada para baixo, meu corpo encostou inteiramente no chão. Um empurrão? Não, doia muito mais do que um empurrão, alguma coisa fincou em minhas costas, me fazendo gritar de dor.
Quando consegui recuperar meu fôlego olhei para trás e me deparei com uma figura estranha, uma criança.
Seu olhar inocente me fazia desacreditar no que eu via. Um rosto angelical, um cabelo bem arrumado, uma roupa limpa. Era um menino bem vestido, mais parecia um anjo, mas em suas mãos um punhal — o que provavelmente me atingiu em cheio nas costas.
Coloquei minhas mãos aonde estava ardendo intensamente como o fogo e minhas mãos se encheram de sangue, quente e vívido — pelo menos eu ainda me sentia viva.
Olhei para aquele rostinho angelical e as palavras sairam de minha boca como um sussurro: "C-como?"
"Eu sou a traição" Disse o pequeno menino.
"M-mas como? Porquê?" Perguntei incrédula.
"Porque vocês, humanos, acreditam com tanta convicção em algo, ou alguém e esquecem de olhar para a verdadeira face. Ficam cegos com mentiras, cegos com palavras. E então, quando vocês menos esperam você é apunhalado pelas costas, o sangue cobre seus olhos e você mal consegue acreditar. Jura que é mentira, mas a verdade está bem na sua frente, escondida atrás daquele rostinho confiável." Ao terminar de falar a traição colocou suas pequenas mãos em seu rostinho angelical e puxou pra fora uma máscara. Meu corpo pulou automaticamente, em assombro.
A verdadeira face daquele pequeno menino era horrenda, seus olhos vermelhos e bem redondos me fitavam fixamente. Seus dentes afiados apareciam entre um sorriso maléfico, e eu me apavorava.
"P-porque fez isso comigo?" Perguntei.
"Para que talvez assim você passe a enchergar as coisas de um jeito diferente, com a real verdade das coisas e não com ilusões criadas por conforto." Ele me respondeu.
A dor já não era tão intensa como antes, mas ainda ardia muito. Coloquei meus joelhos no chão e com as mãos fiz força para poder me levantar. Cambaleei para o lado e a senhora me ajudou a me firmar.
"Calma querida, toda ferida se cura com o tempo, não importa o quão funda ela seja." A senhora me disse.
"Quanto tempo mais eu vou ter que aguentar um sentimento pior que o outro surgindo, um após o outro?" Perguntei enquanto lágrimas rompiam de meus olhos.
O desespero, a traição, a decepção e o destino se colocaram um do lado do outro e responderam em coro: "A sua vida inteira."
A senhora disse: "Você vai passar por muitas provas na sua vida inteira, você vai passar por sensações horríveis, mas vai passar por boas também, e as boas sempre ficaram mais marcadas do que as ruins, como tatuagens."
A ferida em minhas costas não parava de jorrar sangue, mas me mantive forte e me sentei no meu lugar do ônibus.
"Eu não sei mais o que fazer, eu não sei mais como agir, eu realmente não sei de mais nada." Disse com as mãos no rosto, o manchando de sangue.
A senhora sentou-se em seu lugar, ao meu lado, e me disse:
"Siga seu coração. O amor é como o rei dos sentimentos e das sensações, ele domina qualquer coisa — boa ou ruim."
Encostei minha cabeça em meus joelhos, fechei meus olhos e me foquei apenas na dor em minhas costas.

[....]

Nenhum comentário:

Postar um comentário